Navio Haidar que afundou com 5 mil bois continua submerso dez anos após naufrágio no Pará
06/10/2025
(Foto: Reprodução) Comunidades que dependiam da pesca e do turismo ainda sofrem, 10 anos depois de naufrágio de navio em Barcarena, PA
Há exatos dez anos, o navio MV Haidar naufragou no porto de Vila do Conde, em Barcarena, no Pará, e até segunda-feira (6) ainda continua submerso no mesmo local onde afundou com cinco mil bois e 700 toneladas de óleo.
Os animais mortos foram parar na praia, distante cerca de 4 quilômetros do naufrágio. Uma década depois, a praia de Vila do Conde é um fantasma do que já foi e o comércio nunca conseguiu recomeçar na área.
A embarcação era de origem libanesa e tinha como destino a Venezuela. O porto de Vila do Conde faz parte da rota marítima e é um dos principais do país, conectando a região Norte ao exterior.
Navio MV Haidar naufragou com cinco mil bois há dez anos e continua submerso em Barcarena, no Pará.
DNIT
"Aqui a gente pegava todos os tipos de peixe, no nosso igarapé, e a gente pegava camarão, se alimentava daqui", afirma o ex-produtor rural João Dias dos Santos, presidente da comunidade de Acuí, em relação a um local afetado pela contaminação.
Presidente da Associação dos Barraqueiros da Praia e Comerciantes de Vila do Conde, Henrique Carvalho lembra que a área tinha muitas atividades comerciais. "Nós tínhamos umas 15 barracas nessa área".
Antes do naufrágio, a praia vivia do turismo. Eram de 600 a 800 visitantes por final de semana. Também chegavam ribeirinhos para vender peixe, camarão, açaí, mas o medo da contaminação afastou as pessoas do local, que nunca conseguiu se recuperar economicamente.
Depois de um acordo com a empresa dona do navio, as famílias impactadas chegaram a receber uma indenização, mas o valor foi insuficiente, segundo eles.
"Esse valor de R$ 3.290 que cada pessoa daqui de Vila do Conde recebeu. Nas comunidades mais distantes, o valor foi ainda menor", relembra Henrique Carvalho. "Até a renda dos comerciantes era muito maior", segundo ele.
A agricultora Maria Andreia dos Santos sobrevivia do comércio na praia. "A gente fornecia coco para o pessoal da praia, os barraqueiros. Quando não eles vinham à nossa comunidade comprar, e a gente a maioria da comunidade sobrevivia disso".
Arquivo: O naufrágio do navio Haidar, que transportaria para a Venezuela cinco mil bois vivos, mudou, para pior, a rotina dos moradores de Vila do Conde, em Barcarena.
Tarso Sarraf / Jornal OLiberal
Laudos de órgãos ambientais comprovaram prejuízos ambientais e sociais. Comunidades tradicionais que viviam da agricultura e da pesca foram afetadas.
Desde 2015, foram feitas várias tentativas de retirar a embarcação do fundo do rio. Todas sem sucesso.
O Ministério de Portos e Aeroportos, responsável pela operação, disse que avalia qual o tipo de contrato mais adequado para o trabalho, mas não informou um prazo.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), o navio não oferece mais risco de contaminação, mas o caso ainda levanta o debate sobre a falta de licenciamento ambiental no município, um dos principais polos industriais do Pará.
"Em Barcarena até hoje, o seu distrito industrial não tem licenciamento ambiental, então, lá não tem programa mais abrangente que monitora a qualidade do ar e da água da população. A gente tem elementos de que a água de lá é contaminada pela atividade industrial, então isso faz com que nos leve à conclusão da importância de se realmente respeitar a legislação ambiental", defende Bruno Araújo Valente, procurador da República.
"Fomos nascidos e criados aqui e aí não temos o nosso privilégio de continuar vivendo dignamente dentro do nosso território", afirma o ex-produtor rural João.
Arquivo: Naufrágio do navio Haidar, quando transportaria, do porto de Vila do Conde, em Barcarena, para a Venezuela, cinco mil bois vivos.
Tarso Sarraf / Jornal OLiberal
O que dizem as autoridades
Em nota, a Companhia Docas do Pará (CDP) disse que "o naufrágio não comprometeu a continuidade da operação do Porto de Vila do Conde, que segue funcionando normalmente" e que "apesar do berço estar interditado, a CDP adotou medidas de gestão operacional que permitiram a manutenção da atividade portuária e mitigaram os impactos econômicos".
A CDP disse, ainda, que "o navio permanece monitorado e não representa risco ambiental ativo às operações". E quanto à expectativa de remoção da embarcação, "o tema segue em tratativas com os órgãos competentes, considerando aspectos técnicos, jurídicos e ambientais", segundo a companhia.
A Secretaria de Meio Ambiente de Barcarena disse que "faz ações de fiscalização e monitoramento, além de dialogar com as demais autoridades para garantir proteção ambiental no município".
Já a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará (Semas-PA) informou que "faz fiscalizações constantes em Barcarena e aplica autos de infração quando uma irregularidade é constatada" e que "cada empresa do Distrito Industrial da cidade envia relatórios, que são recebidos e validados pela secretaria".
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